Novo instituto combaterá gastos do SUS com pseudociências como homeopatia e dança de roda

Novo instituto combaterá gastos públicos em 'pseudociências'

Órgão observará 29 práticas contempladas pelo SUS cuja eficiência não é comprovada, como homeopatia e dança de roda

Combater o gasto de dinheiro público em práticas sem eficácia comprovada marcará o início do trabalho do primeiro instituto brasileiro dedicado à defesa da sociedade contra pseudociências, denominação que engloba tudo aquilo que se veste de científico embora fracasse em provar eficiência. São 29 casos, que vão da homeopatia a banhos inspirados em práticas dos homens das cavernas ao observar animais feridos e hoje pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Instituto Questão de Ciência (IQC) será lançado na quinta-feira, em São Paulo, e reúne integrantes da comunidade científica e dos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, dos pró-reitores de pesquisa de USP, Unesp e Unicamp.
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A meta inicial é convencer o governo a deixar de obrigar o SUS a pagar por 29 práticas alternativas, como imposição de mãos, dança circular e homeopatia. O IQC lançará um manual de informação sobre essas práticas com orientações de como detectar quando uma terapia não consegue cumprir aquilo o que promete. A inspiração são entidades dos EUA (Center for Inquiry) e Reino Unido (Sense about Science).

— Faltam recursos para diminuir as filas de atendimento de pacientes com câncer, doenças cardíacas e diabetes, ou para melhorar as emergências. Mas há dinheiro para pagar por métodos incapazes de provar que funcionam (essas práticas). Isso é socialmente injusto — condena Taschner.
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O Brasil tem seguido na direção contrária. Há 12 anos o SUS paga pelas chamadas práticas integrativas. Em março deste ano o então ministro da Saúde, o engenheiro Ricardo Barros, anunciou a inclusão de mais dez práticas ao SUS e disse que o Brasil era líder na área, com 29 práticas integrativas oferecidas pelo SUS em 9.350 estabelecimentos em 3.173 municípios.

De fato, só o Brasil tem na lista das práticas pagas pelo poder público o uso de lama para facilitar o contato com o “Eu interior” (geoterapia), dança de roda (dança circular) e passes “para a transferência de energia vital (Qi, prana) por meio das mãos” (imposição de mãos), por exemplo.

O Brasil já financiou também pesquisas com a fosfoetanolamina, que fracassou ao ser testada em tratamento contra o câncer. O caso é emblemático, observa Taschner, porque os pacientes que recorreram a essa substância deixaram de receber terapias adequadas.
https://oglobo.globo.com/sociedade/novo-instituto-combatera-gastos-publicos-em-pseudociencias-1-23247547

Comentários

  • Tina Turner e a homeopatia

    Após passar pelo processo de diluições, o que sobra em geral é só água, sem nenhuma molécula de princípio ativo

    Por Natalia Pasternak 29/05/2023


    Durante uma festinha de criança, conversando com outros pais e mães, me sugeriram usar homeopatia para um problema de saúde da minha filha. Perguntei se sabiam o que era um remédio homeopático, e me responderam, que sim, claro, era remédio natural. Alguém arriscou que era feito de extratos de plantas.

    Pesquisa conduzida pelo Center for Inquiry (CFI), associação sem fins lucrativos baseada nos EUA, mostrou que a maior parte das pessoas que consome produtos homeopáticos não sabe exatamente como são feitos, no que diferem de medicamentos convencionais e nem quais são os princípios da homeopatia. A pesquisa mostrou que, quando os consumidores foram apresentados a estes dados, sentiram-se enganados e frustrados. Achavam que a homeopatia havia sido testada e aprovada pela FDA (agência regulatória de medicamentos e alimentos dos EUA), da mesma maneira que qualquer outro medicamento..

    Mas afinal, o que é homeopatia, essa prática que se tornou tão popular no Brasil, a ponto de ser ensinada nas faculdades, endossada pelo Conselho Federal de Medicina, e oferecida no Sistema Único de Saúde? É uma forma de medicina alternativa baseada em dois princípios. Um, semelhante cura semelhante: algo capaz de provocar, numa pessoa saudável, sintomas análogos aos de uma doença deve ser capaz de curar essa mesma doença; dois, diluição infinitesimal – quanto mais diluído o princípio ativo, maior a sua potência curativa. Inventada pelo médico alemão Samuel Hahnemann em 1790, quando os conhecimentos sobre microrganismos e anatomia humana eram precários, a homeopatia tem um processo de diagnóstico que não considera as causas da doença, apenas sintomas.

    Remédios homeopáticos não são avaliados com o mesmo rigor dos medicamentos convencionais. E nem poderiam, porque após passar pelo processo de diluições infinitesimais, o que sobra em geral é só água, sem nenhuma molécula de “princípio ativo”. Dá para entender a frustração dos participantes da pesquisa do CFI, e dos meus amigos na festinha quando descobriram a verdade.

    O desconhecimento, aliado à glamourização da medicina alternativa, revestida do rótulo equivocado de “natural”, atrai muita gente para este mercado. Não faltam celebridades entre os adeptos. Alguns, como Steve Jobs, pagaram com a própria vida por escolher tratamentos alternativos no lugar de medicina de verdade.

    A morte recente da cantora Tina Turner trouxe à tona a história de como a homeopatia lhe custou um rim. Tina sofria de pressão alta, e em 2013, sofreu um derrame. Iniciou tratamento, mas convencida de que os remédios estavam lhe “fazendo mal”, consultou um homeopata francês, que substituiu tudo por preparados homeopáticos, e disse que a hipertensão era causada por “toxinas na água”. Além de abandonar o tratamento correto, a cantora mandou trocar o encanamento e “purificar” a água com “cristais energéticos”. Em 2017, os rins, sobrecarregados com a hipertensão descontrolada, começaram a falhar, e ela precisou de um transplante.

    Embora Tina reconheça que errou ao tratar pressão alta com homeopatia, não se convenceu de que a prática é inútil. Seguiu acreditando que, para males menores, diluições infinitas podem ser úteis.

    Tina Turner deixa saudades como artista e mulher. Não foi a homeopatia que a matou, mas certamente a falha renal deteriorou sua saúde. O episódio do transplante faz dela mais uma vítima (por sorte, sobrevivente) da medicina alternativa. Muitas dessas vítimas têm algo em comum: o silêncio. Os mortos não falam porque não podem; os vivos, porque não querem romper alianças ideológicas, afetivas, religiosas. E assim, a homeopatia e outras práticas alternativas seguem iludindo, lucrando, e matando.
    https://oglobo.globo.com/blogs/a-hora-da-ciencia/post/2023/05/tina-turner-e-a-homeopatia.ghtml
  • Homeopatia é feita de nada!

    Por Natalia Pasternak 18/04/2022

    Imagine a seguinte situação hipotética: você vai ao médico homeopata com um resfriado forte e dor de garganta. Você ouviu dizer que a homeopatia é uma medicina natural, mais gentil e que “trata o paciente como um todo”. O médico, muito atencioso, faz perguntas sobre todos os aspectos da sua vida, escuta com atenção e interesse genuínos. Ao fim da consulta, receita um remédio. Você vai à farmácia de manipulação mais próxima, manda fazer o remédio, e uma semana depois está curado.

    Segunda situação: você vai a um otorrino que respeita a ciência, mas talvez não seja um cara tão legal, tão interessado nos detalhes da sua vida, quanto o homeopata. Ele diz que é apenas uma infecção viral e recomenda tomar muito líquido e repousar. Uma semana depois, você está curado.

    Terceira situação: idêntica à primeira, mas ao final da consulta, o médico homeopata resolve abrir o jogo. Explica que receitou um remédio feito a partir de fígado de pato, tão diluído em água que não sobrou nada do pato ali. Ele explica que não existe análise possível que seja capaz de distinguir uma bolinha de açúcar comum da bolinha homeopática de fígado de pato. Mas que a “memória” do fígado está ali. E é essa memória que vai curar o seu resfriado.

    Ele também explica que a homeopatia é exatamente a mesma há 200 anos, não levou em consideração, por exemplo, a descoberta da existência de vírus e bactérias, nem a do DNA. E que vários estudos já demonstraram que não funciona melhor do que um placebo, aquelas pílulas de mentira que os cientistas usam em testes clínicos de medicamentos. Mas insiste que tem certeza de que funciona, porque vê pacientes satisfeitos na sua clínica. E, se a ciência não explica, não há problema, porque ela não tem todas as respostas, e a homeopatia não pode ser testada pelo método científico, porque opera em outra dimensão.

    Os princípios da homeopatia foram inventados por um médico que não acreditava que seria um dia possível saber como o corpo humano funciona por dentro, e que por isso só o que a medicina poderia tocar seriam os sintomas tais como descritos pelo paciente. Outros médicos achavam que entendiam o funcionamento do corpo, mas estavam errados — e prescreviam coisas como sangrias, vômitos e laxantes, que na prática acabavam sendo piores do que água limpa ou bolinhas de açúcar.

    Isso foi séculos atrás. Todo mundo estava errado, mas o erro homeopata causava, na época, menos dano. O problema é que, de lá para cá, os não homeopatas tiveram a humildade de aprender com seus equívocos e lançar uma medicina de base científica.

    Falamos muito em ética, e consentimento esclarecido do paciente. Mas a verdade é que não existe esclarecimento sem informação. E essa informação nem sempre está presente nos consultórios homeopáticos. Apela-se a outras dimensões, energias quânticas ou espirituais para tentar escapar do fato que a homeopatia foi testada pela ciência e falhou.

    Mas por que, às vezes, a homeopatia parece funcionar? Porque, assim como o resfriado que passou em uma semana com ou sem homeopatia, muitas doenças são cíclicas, têm picos de sintomas e depois voltam naturalmente ao padrão, ou se resolvem sozinhas com o tempo, como tantas doenças da infância e da puberdade. Para completar, temos o efeito placebo que geralmente acompanha um condicionamento: tomar uma pílula, receber uma injeção, ou mesmo receber carinho e atenção costuma surtir efeito nas pessoas, aliviando sintomas e reduzindo dor.

    Por isso usamos o grupo placebo em testes clínicos: para distinguir esses efeitos dos que são de fato causados pelo medicamento. Quando a comparação é bem feita, o saldo homeopático é zero. Isso não é surpresa, já que se trata justamente de um placebo. É apenas água, ou açúcar. A homeopatia não funciona, porque ela é feita de nada.
    https://oglobo.globo.com/blogs/a-hora-da-ciencia/post/2022/04/homeopatia-e-feita-de-nada.ghtml
  • CRIATURO escreveu: »
    ciranda.jpg

    Pelo menos na dança de roda a pessoa está fazendo exercícios.
  • Estive numa UPA na ultima semana acompanhando um parente com 80 anos de idade. Estava lotado. O ambiente é tenso devido a estrutura parecer pequena para a demanda. Ganhamos a pulseira vermelha e passamos a frente de todo mundo. Exames de raio X, sangue, tudo feito no local.

    Me parece que ali os funcionários, em especial enfermeiros e medicos, estavam estressados. Tivemos um bom atendimento mas aquilo ali é um caldeirão. a qualquer momento alguem pode se revoltar por falta de atendimento ou por ter uma classificação que nem te garante atendimento.

    É preciso ir ali quando se está quase morrendo pois se voce for na triagem e não apresentar febre alta, saturação baixa, já era.
    A unica critica que tenho, tirando as obviedades, é que me parece que não existe um fluxo de processo. Layout é tosco. Voce vai e volta pelos corredores varias vezes.
  • Ouvi dizer que se, apenas um décimo do que se recolhe para os seguro-saúde, fosse repassado ao SUS, teríamos a melhor rede de saúde pública do mundo.
    Alguém conhece este estudo?
  • Já que estão nessa página de fazer este tipo de estelionato deveriam incluir cirurgias mediúnicas e consultas com o Dr. Fritz.
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