22 PROBLEMAS DA TEORIA DE JOSEPH ATWILL DE JESUS COMO INVENÇÃO ROMANA

editado September 2022 em Religião é veneno
Joseph Atwill é um autor que defende que Jesus nunca existiu (tese que não é mais aceita na academia). No entanto, sua teoria se tornou popular entre leigos. Para ele, Jesus é um mito inventado pela dinastia flaviana (Vespasiano, Tito e Domiciano) para acalmar as revoltas judaicas, especialmente após a destruição do Templo de Jerusalém em 70 d.C. por Tito. A dinastia flaviana teria contratado um conjunto de intelectuais, entre eles Flávio Josefo, para escreverem textos criando a figura de Jesus, como os Evangelhos e cartas atribuídas a Paulo.

É importante lembrar que a pesquisa sobre o Jesus Histórico não nega que os Evangelhos sejam em grande parte míticos e que eles se esforcem para agradar os romanos, além de terem influências greco-romanas. A questão é que por trás desses mitos há traços que sugerem que eles foram construídos em torno de uma pessoa histórica.

Seguem 22 questões que revelam os problemas da teoria de Joseph Atwill:
1. Uma leitura dos Evangelhos deixa claro que Jesus era contra a elite política de seu tempo, posicionando-se sempre ao lado dos oprimidos e nunca tomando o lado do opressor. Como esse Jesus questionador das opressões se harmoniza com um Jesus que promovia a submissão a Roma?
2. A morte de Jesus foi política. A razão está até mesmo no escrito que foi colocado sobre sua cruz "Jesus, Rei dos Judeus". Jesus foi morto por se declarar rei dos judeus, contra, pois, o poder de Roma. Isso não é um problema para a tese de um Jesus pró-Roma?
3. Jesus foi evidentemente morto pelos romanos. Ainda que os evangelistas tentem amenizar isso, eles nao deixam de dizer que Jesus foi morto por Roma. Inclusive as tentativas dos Evangelhos de retratar um Pilatos bonzinho (e a gente sabe pela história que ele não era assim) ou a figura de Barrabás e dos judeus condenando Jesus, é justamente porque a mensagem de Jesus morto por Roma incomodava até mesmo os escritores dos Evangelhos e seus leitores, tratava-se de uma informação constrangedora para os próprios evangelistas, mesmo assim eles tiveram de registrar tal informação constrangedora. Ademais o mito de um herói morto por Roma traria o efeitos oposto de acalmar revoltas judaicas contra os romanos. Por que os evangelistas registraram essa morte, por que não evitaram tamanho constrangimento?
4. Os Evangelhos lidam com informações problemáticas sobre Jesus que se estivessem só criando um mito não precisariam lidar. Um exemplo é a tentativa dos evangelistas de resolver o problema de ele ser de Nazaré (quando na verdade deveria ter nascido em Belém pela profecia) outro exemplo é o esforço dos Evangelhos de resolver as coisas com o movimento de João Batista (mais um que foi morto por Roma por pregar que o Reino de Deus suplantaria o de Roma). Se os Evangelhos fossem um mito inventado, todos esses problemas não desapareceriam?
5. Nos Evangelhos, Jesus escolhe doze discípulos representantando as 12 tribos de Israel, revelando que com isso ele pretendia restaurar o Reino de Israel. Jesus prometeu ainda que quando seu Reino for estabelecido cada um dos discípulos se sentaria em um trono (Mateus 19:28). Se Jesus é uma invenção do Império Romano, como pode ele ter pregado a restauração do Reino de Israel?
6. Jesus nunca se colocou como um anti-judeu. Ele sempre insistiu que não veio abolir a lei judaica mais cumpri-la. Ele sempre se referiu à Bíblia Hebraica como sua base de fé. Embora os autores dos Evangelhos revelem um antissemitismo na sua escrita (a exemplo da criação da figura de Judas Iscariotes), o próprio Jesus não se enquadrava como tal. Como um judeu fiel às tradições judaicas se harmoniza com um Jesus pró-Roma?
7. Os Evangelhos deixam claro que Jesus era um camponês pobre que trabalhava como carpinteiro e que vivia em uma vila miserável, tendo até nascido (na versão de Lucas) em um estábulo. Aliás Jesus sempre pregou nos campos e pequenos vilarejos, evitando pregar em cidades grandes nas quais viviam a elite política. Por que Roma criaria um Messias que é da classe mais explorada e subalterna dos judeus e que sempre pregou exatamente contra a exploração e opressão?
8. Lucas narra que Herodes tentou matar Jesus desde criança. Por que o Império Romano criou um Messias que desde criança foi objeto de perseguição e tentativa de assassinato por parte das autoridades romanas?
9. Se Jesus foi uma criação de Roma, por que todas as suas parábolas (parábolas dos lavradores, da semeadura etc) são baseadas na vida camponesa pobre e rural da palestina do século primeiro. Não indica essas parábolas que Jesus foi realmente um camponês pobre da zona rural?
10. As profecias sobre a vinda do Filho do Homem são fortemente escatológicas. É do céu que esse Filho do Homem vem, e ele vem justamente para derrubar todo Império terreno e estabelecer o Reino dos Céus. Inclusive Jesus disse que seu Reino não era desse mundo. Será mesmo que os Evangelhos pensam o Filho do Homem como o general Tito?
11. O Novo Testamento faz críticas a Roma. Um exemplo claro é o livro de Apocalipse que retrata Roma como a "Besta", a "Prostituta", a "Babilônia". Os autores também insistem que só Cristo deve ser chamado como Senhor se opondo à divinização de César. Como isso se harmoniza com o Cristianismo como uma criação romana?
12. Uma comparação dos Evangelhos nos revela diversas contradições. De um lado é claro que eles narram os mesmos eventos, mas ao narrar esses eventos eles narram de formas que entram em muitas contradições. Isso significa que Roma teria criado Evangelhos com as mesmas narrativas, mas cheias de contradições entre si? Se os Evangelhos são criações de Roma não era de se esperar que, pelo menos quando narram as mesmas histórias, eles não estivessem cheios de contradições?
13. Os Evangelhos e o resto do Novo Testamento estão cheios de narrativas, doutrinas e instruções que nada tem a ver com submissão a Roma. São doutrinas teológicas e princípios morais sobre temas e assuntos diversos de sabedoria e teologia. Qual o propósito disso na criação de um mito para promover submissão a Roma?
14. Será que os Evangelhos cumpriram mesmo a função de pacificar as rebeliões judaicas quando na verdade o Cristianismo foi marjoritariamente aceito entre gregos e romanos e em geral rejeitado pelos judeus? Afinal de contas, porque eles se direcionam muitas vezes mais ao público gentio?
15. Podemos ver evidências que Mateus e Lucas não tiveram contato entre si (a começar pelas diferenças significativas em suas narrativas sobre o nascimento de Jesus), no entanto, eles concordam em muitas narrativas e palavras de Jesus. Essa múltipla atestação de palavras e atos de Jesus por autores que não tiveram contato não favorece que alguns de seus elementos tenham um fundo histórico?
16. Atwill pontua paralelos entre Josefo e os Evangelhos. Esses paralelos eram de se esperar, já que os evangelistas provavelmente eram gentios gregos vivendo no Império Romano que conheceiam literaturas, símbolos, mitos e expressões gregas e romanas (e claramente as usaram em seus Evangelhos). No entanto, o que essas analogias provam além de que os escritores dos Evangelhos tinham influência greco-romanas?
17. Nos Evangelhos a destruição do Templo por Tito é chamada de "abominação da desolação" (Mateus 24:15), termo que se refere a Daniel, que usa o termo para falar da profanação do Templo por Antíoco Epifânio. Essa profanação foi responsável por gerar a revolta judaica dos macabeus. Será que faz sentido que um Evangelho escrito para conter revoltas judaicas contra a dinastia flaviana após a destruição do Templo compare Tito com Antíoco Epifânio, que ao profanar o Templo inicitou a revolta dos macabeus e ainda o chame de "abominação da desolação"?
18. Jesus é chamado de "Filho de Davi", as genealogias dos Evangelhos o colocam como herdeiro do trono de Davi e desde Paulo ele é considerado como tal. Um Jesus que seja retratado como herdeiro do trono real de Davi não seria uma ameaça para Roma?
19. Jesus disse que toda autoridade e poder lhe foram dados no céu e na terra (Mateus 28:18). Com isso Jesus não se coloca acima de todo poder terreno, incluindo Roma?
20. Apocalipse 11:15 diz que quando Jesus voltar todos os reinos do mundo se tornarão dele. Isso não mostra que o estabelecimento do Reino de Deus foi entendido como trazendo a queda de todos reino humano, incluindo Roma?
21. As supostas analogias que Atwill vê entre Josefo e os Evangelhos não são forçadas? Como as analogias de homens sendo espetados por lança em Josefo e a expressão "pescadores de homens" nos Evangelhos; ou analogia entre uma mulher comer seu bebê e a santa ceia; ou revoltosos caindo do penhasco e porcos endemoninhados se lançando do despenhadeiro. Não são analogias como essas paralelos claramente forçados?
22. Se Jesus é uma criação romana, por que ele passou como alguém marginal, praticamente não citado em documentos romanos e mesmo em Josefo quase não aparecendo em seus escritos. Se Jesus foi uma criação romana, não é estranho que ele não tenha recebido atenção ou pelo menos menção de documentos romanos da época?

Comentários

  • editado September 2022
    Volpiceli escreveu: »
    7. Os Evangelhos deixam claro que Jesus era um camponês pobre que trabalhava como carpinteiro e que vivia em uma vila miserável, tendo até nascido (na versão de Lucas) em um estábulo.
    Segundo os evangelhos, Jesus circulava pela alta sociedade da época e tinha amigos ricos.
    Seus pais não eram ricos, mas só nasceu no estábulo da hospedaria em que ficaram porque ela estava muito cheia e não havia um lugar resguardado para se fazer o parto.
    Volpiceli escreveu: »
    Aliás Jesus sempre pregou nos campos e pequenos vilarejos, evitando pregar em cidades grandes nas quais viviam a elite política. Por que Roma criaria um Messias que é da classe mais explorada e subalterna dos judeus e que sempre pregou exatamente contra a exploração e opressão?
    Ao mesmo tempo, diz que é melhor dar um presente a ele, que um dia irá embora, que aos pobres, que sempre existirão.
    Volpiceli escreveu: »
    8. Lucas narra que Herodes tentou matar Jesus desde criança. Por que o Império Romano criou um Messias que desde criança foi objeto de perseguição e tentativa de assassinato por parte das autoridades romanas?
    Há outras lendas sobre homens santos ou salvadores do mundo que foram perseguidos ao nascer. Krishna, por exemplo. Ou Moisés.
    Volpiceli escreveu: »
    9. Se Jesus foi uma criação de Roma, por que todas as suas parábolas (parábolas dos lavradores, da semeadura etc) são baseadas na vida camponesa pobre e rural da palestina do século primeiro. Não indica essas parábolas que Jesus foi realmente um camponês pobre da zona rural?
    Ou será que não havia tanta separação entre cidade e zona rural?

    É pouco provável que os romanos tenham inventado Jesus. O mais próximo disto é o fato de que o cristianismo foi criado por Paulo, um cidadão romano, ao adaptar a seita judaica dos discípulos de Jesus à conveniência dos não-judeus.

    Na verdade, o cristianismo primitivo foi rejeitado pelos romanos porque acreditava em que o fim do mundo estava tão próximo que já não valia a pena trabalhar nem se preocupar com coisas materiais, além de rejeitar a autoridade romana.

    Mas o tempo passou, Jesus não voltou e os cristão decidiram que ninguém sabe quando Jesus voltará e retomaram uma vida normal.
  • editado September 2022
    Os reis magos deram OURO para Jesus. Ele era um bebê. Aposto que José torrou tudo na jogatina e na putaria. Oq sobrou abriu uma oficina de carpintaria.
  • Como lembrei dos reis magos, fui ver oq era o tal outro presente: mirra:

    "A mirra (Commiphora myrrha) é uma árvore espinhosa, de folhas caducas, que pode atingir 5 metros de altura, com flores vermelho-amarelo, e frutos pontiagudos. É nativa do nordeste da África (Somália e partes orientais da Etiópia) encontra-se também no Israel e Médio Oriente, Índia e Tailândia."

    Que bosta para se dar a um bebe
  • editado September 2022
    Volpiceli escreveu: »
    Joseph Atwill é um autor que defende que Jesus nunca existiu (tese que não é mais aceita na academia). No entanto, sua teoria se tornou popular entre leigos. Para ele, Jesus é um mito inventado pela dinastia flaviana (Vespasiano, Tito e Domiciano) para acalmar as revoltas judaicas, especialmente após a destruição do Templo de Jerusalém em 70 d.C. por Tito. A dinastia flaviana teria contratado um conjunto de intelectuais, entre eles Flávio Josefo, para escreverem textos criando a figura de Jesus, como os Evangelhos e cartas atribuídas a Paulo.
    Esta pode entrar pro Top Ten das teorias históricas mais estapafúrdias.
    Os Romanos tinham seu próprio jeito nada sutil, mas muito eficiente de acalmar revoltas que era exterminar os revoltosos, como aliás fizeram com a Revolta Judaica, lembrando que a própria destruição do Templo de Jerusalém, o símbolo supremo da Fé e nacionalidade dos judeus deixa claro que os Romanos não deixavam barato qualquer desafio à autoridade deles.
    Seguem 22 questões que revelam os problemas da teoria de Joseph Atwill:
    Estas questões estão cheias de erros, dos quais o Fernando já apontou alguns.
    Temos uma teoria estapafúrdia sobre o qual lançam questões não muito melhores.
  • editado September 2022
    Volpiceli escreveu: »
    Joseph Atwill é um autor que defende que Jesus nunca existiu (tese que não é mais aceita na academia).

    Se é que esta tese alguma vez foi aceita na Academia.
    O Cristianismo é essencialmente uma religião biográfica.
    É extremamente improvável que seguidores de um profeta que não existiu inventaram a biografia de um personagem fictício para construir uma religião sobre a biografia inventada do inexistente.
    Muito mais razoável do ponto de vista historiográfico é entender que uma personalidade extremamente marcante naquele lugar e época motivou uma tradição oral que agregou conteúdos literários mitológicos que catalisaram o impacto histórico daquela biografia.
    Existem técnicas historiográficas para separar fato e ficção por graus de verossimilhança.
    Crucificação?
    Altamente provável, os romanos estavam sempre dispostos a crucificar qualquer um que considerassem um opositor, por que seria diferente naquele caso?
    Alem disto, a crucificação era uma execução degradante, reservada aos tidos como desqualificados, numa biografia inventada seria mais provável que o herói mítico sofresse algum tipo de morte heróica, gloriosa.

    Nascimento virginal, tempestades milagrosamente acalmadas, ressureição?
    Objetos de Fé.
  • ENCOSTO escreveu: »
    Como lembrei dos reis magos, fui ver oq era o tal outro presente: mirra:

    "A mirra (Commiphora myrrha) é uma árvore espinhosa, de folhas caducas, que pode atingir 5 metros de altura, com flores vermelho-amarelo, e frutos pontiagudos. É nativa do nordeste da África (Somália e partes orientais da Etiópia) encontra-se também no Israel e Médio Oriente, Índia e Tailândia."

    Que bosta para se dar a um bebe
    Monty Python concorda com O Encosto:
  • Acauan escreveu: »
    ENCOSTO escreveu: »
    Como lembrei dos reis magos, fui ver oq era o tal outro presente: mirra:

    "A mirra (Commiphora myrrha) é uma árvore espinhosa, de folhas caducas, que pode atingir 5 metros de altura, com flores vermelho-amarelo, e frutos pontiagudos. É nativa do nordeste da África (Somália e partes orientais da Etiópia) encontra-se também no Israel e Médio Oriente, Índia e Tailândia."

    Que bosta para se dar a um bebe
    Monty Python concorda com O Encosto:

    Homenagem a Rainha que faleceu hoje
  • ENCOSTO escreveu: »
    Homenagem a Rainha que faleceu hoje.

    Eu vou esperar três dias prá ter certeza.

  • editado September 2022
    Eles achavam que as madeiras dessa mirra quando transformadas em pó tinha propriedades medicinais.
  • Acauan escreveu: »
    Nascimento virginal, tempestades milagrosamente acalmadas, ressureição?
    Objetos de Fé.
    E sequer eram feitos originais. Plágio descarado (porém mais difícil de ser descoberto numa época de analfabetismo generalizado, livros raros e caros e sem Internet).
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