Ciência e as trevas

A tragédia brasileira:
evangelismo + movimentos anti-ciência + paranóia generalizada + relativismo, toda opinião é a verdade + ódio aos intelectuais/ especialistas.

Aqui em Portugal, excepto a vertente religião, há o mesmo problema, mas como uma enorme diferença: quem lidera não é um reflexo da massa ignorante.

As teorias da conspiração paranóicas, as falsas notícias...existem nos comentários das redes sociais. Não há lixo no espaço político, nem as instituições são geridas segundo opiniões fundadas nas crendices pessoais.

ministra da Saúde da Republica Portuguesa trabalha todos os dias desde do começo da Pandemia, sem que a sua imagem tenha sofrido o desgaste da função. Já merece descansar.
A directora geral da saúde é uma cientista respeitada, que se mantém em funções...

Obviamente, há sempre os comentários das redes sociais, mas uma liderança política não decide com base na opinião da massa...



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Comentários

  • É com pesar que recebo as notícias sobre o Brasil.
    A primeira coisa que penso: oxalá consigam inverter a situação o mais depressa possível.
    Segue-se o pensamento: Desejo que Portugal não tenha idêntica situação no futuro...
  • Será mesmo?
  • PugII escreveu: »
    É com pesar que recebo as notícias sobre o Brasil.
    A primeira coisa que penso: oxalá consigam inverter a situação o mais depressa possível.
    Segue-se o pensamento: Desejo que Portugal não tenha idêntica situação no futuro...
    Desde o final do século XIX e durante mais da metade do XX, o Brasil recebeu os esfomeados e perseguidos da Europa e do resto do mundo.
    Só de memória: holandeses, suíços, alemães, pomeranos, poloneses, finlandeses, japoneses, chineses, sírios, libaneses, ucranianos, italianos, espanhóis, portugueses, angolanos, servocroatas, judeus de muitas nacionalidades etc.

    A cada guerra, fome ou genocídio, lá vinham eles amontoados nos navios.

    Pode acontecer de novo.
  • editado May 2020
    Fernando_Silva escreveu: »
    PugII escreveu: »
    É com pesar que recebo as notícias sobre o Brasil.
    A primeira coisa que penso: oxalá consigam inverter a situação o mais depressa possível.
    Segue-se o pensamento: Desejo que Portugal não tenha idêntica situação no futuro...
    Desde o final do século XIX e durante mais da metade do XX, o Brasil recebeu os esfomeados e perseguidos da Europa e do resto do mundo.
    Só de memória: holandeses, suíços, alemães, pomeranos, poloneses, finlandeses, japoneses, chineses, sírios, libaneses, ucranianos, italianos, espanhóis, portugueses, angolanos, servocroatas, judeus de muitas nacionalidades etc.

    A cada guerra, fome ou genocídio, lá vinham eles amontoados nos navios.

    Pode acontecer de novo.

    Europa está péssima, nunca a vi tão mal. Assistir ao descalabro Italo-francês, já não me surpreenderia se houvesse de novo emigração europeia em larga escala.

    (No entanto, o que foco é o alastrar do movimento anti-ciência)
    Como foi possível o Brasil eleger uma bosta?
    e
    Já que vc falou: como foi possível a Europa ter chegado ao Estado a que chegou?
    Há quem responda, no caso europeu, que se deve à UE ser um mero mercado económico. De tanto preocupar-se com o consumidor, numa lógica capitalista, esqueceu formar uma identidade europeia.
    O capitalismo que destruiu os empregos europeus, espoliou os mais pobres para adquirir produtos baratos para vender a consumidores que não se deram conta do real custo para as suas vidas...




  • PugII escreveu: »
    Já que vc falou: como foi possível a Europa ter chegado ao Estado a que chegou?
    Há quem responda, no caso europeu, que se deve à UE ser um mero mercado económico. De tanto preocupar-se com o consumidor, numa lógica capitalista, esqueceu formar uma identidade europeia.
    O capitalismo que destruiu os empregos europeus, espoliou os mais pobres para adquirir produtos baratos para vender a consumidores que não se deram conta do real custo para as suas vidas...

    Europeu sempre gostou de um amparo estatal, você é só mais um que adora lamber as bolas da UE.

    Não existe identidade européia onde uns países tem que contribuir para sustentas outros países capengas como Portugal, por exemplo.



  • editado May 2020
    Na vertente evangelismo:
    https://visao.sapo.pt/atualidade/2020-05-20-lideres-e-pastores-evangelicos-fazem-campanha-pelo-chega/?fbclid=IwAR3ICCMCQA6Cn-9cSZ7SaZjfNUxHEH8PQ9z6ojvpcA_dwHWYv0ONeD9N-4w

    Portugal ainda está livre dessa seita capitalista evangélica, mas sendo acossado há anos e pode estar a enfraquecer.
    Ao vir para Leiria, descobri:

    LEIRIA.jpg

    Sendo um observador atento, já encontrei outras seitas evangélicas brasileiras nas redondezas.


    Nota: durante um ano frequentei o culto católico, observando como o discurso é bem mais apaziguador. Sem deixarem de passar a mensagem conservadora da moral católica, não alimentam as mentes das pessoas com as tontices que se prega nas igrejas brasileiras evangélicas.
    Apoio a igreja católica contra esta subversão nociva das seitas evangélicas.

  • Mas a reforma protestante não se deu na Europa?
  • PugII escreveu: »
    Portugal ainda está livre dessa seita capitalista evangélica, mas sendo acossado há anos e pode estar a enfraquecer.
    Ao vir para Leiria, descobri:

    LEIRIA.jpg
    Esta é a Igreja Universal do Reino de Deus. Disfarçaram, esconderam o nome, mas são eles.
  • PugII escreveu: »

    Portugal ainda está livre dessa seita capitalista evangélica, mas sendo acossado há anos e pode estar a enfraquecer.
    Ao vir para Leiria, descobri:

    LEIRIA.jpg

    Sendo um observador atento, já encontrei outras seitas evangélicas brasileiras nas redondezas.


    Nota: durante um ano frequentei o culto católico, observando como o discurso é bem mais apaziguador. Sem deixarem de passar a mensagem conservadora da moral católica, não alimentam as mentes das pessoas com as tontices que se prega nas igrejas brasileiras evangélicas.
    Apoio a igreja católica contra esta subversão nociva das seitas evangélicas.
    Os brasileiros que estão indo ai precisam rezar também.
  • 118733962_3849933508355301_8233637283595875660_o.png?_nc_cat=105&_nc_sid=8024bb&_nc_ohc=_kZn3rq_LH0AX9MBtcU&_nc_ht=scontent.fcwb2-1.fna&oh=6da3c39acd072a9acfab5ef8ddcd4556&oe=5F715BF5
    Mas difícil ainda é conseguir que um monte de conspiradores guarde segredo.
  • editado September 2020
    Fernando_Silva escreveu: »
    Mas difícil ainda é conseguir que um monte de conspiradores guarde segredo.
    Grandes líderes não conseguem esconder nem os escândalos de suas vidas íntimas, que dirá seus grandes planos políticos.
  • editado September 2020
    PugII escreveu: »
    A tragédia brasileira:
    evangelismo + movimentos anti-ciência + paranóia generalizada + relativismo, toda opinião é a verdade + ódio aos intelectuais/ especialistas...

    Ódio aos intelectuais/ especialistas deve ser referência a comentários sobre falas do Átila Iamarino, aquele grande paladino da Ciência, que nenhum laboratório contratou.
    O resto deve ser baseado em coisa parecida.
  • editado September 2020
    Acauan escreveu: »
    PugII escreveu: »
    A tragédia brasileira:
    evangelismo + movimentos anti-ciência + paranóia generalizada + relativismo, toda opinião é a verdade + ódio aos intelectuais/ especialistas...

    Ódio aos intelectuais/ especialistas deve ser referência a comentários sobre falas do Átila Iamarino, aquele grande paladino da Ciência, que nenhum laboratório contratou.
    O resto deve ser baseado em coisa parecida.

    Atiletes vão a loucura.
  • As seitas evangélicas são perigosas.
    Aqui, Leiria, encontrei protestantes, o que é menos mau.
    Evangélicos, não é o mesmo que protestantes
    Percival escreveu: »
    PugII escreveu: »
    Já que vc falou: como foi possível a Europa ter chegado ao Estado a que chegou?
    Há quem responda, no caso europeu, que se deve à UE ser um mero mercado económico. De tanto preocupar-se com o consumidor, numa lógica capitalista, esqueceu formar uma identidade europeia.
    O capitalismo que destruiu os empregos europeus, espoliou os mais pobres para adquirir produtos baratos para vender a consumidores que não se deram conta do real custo para as suas vidas...

    Europeu sempre gostou de um amparo estatal, você é só mais um que adora lamber as bolas da UE.

    Não existe identidade européia onde uns países tem que contribuir para sustentas outros países capengas como Portugal, por exemplo.



    Sabe, o que é pena é você falta à verdade e nunca focar em factos.

    O que você diz só mostra a sua falsidade, pois sendo eu opositor da UE é ridículo aquilo que vc diz,

    Mesmo relativo a Portugal, vc diz asneira.
    Portugal não é sustentado mas recebe fundos para aceitar não produzir. É a pior forma de corrupção europeia e um dos principais motivos para a minha oposição à UE.




    Ainda hoje vcs têm dificuldade em entender a diferença entre as ideias que defendo pessoalmente e exercício meramente académico-advogado do diabo-humorístico.

    O que defendo:
    Sou conservador, num sentido histórico de valores ético-nacionais. Damos valor à nossa história e modo de vida.
    Tenho posição anti-capitalista ( escala global), por aqui residir o mal que tem levado à decadência dos Estado-Nação e por consequência enfraquecimento dos valores éticos-tradicionais e da vida comunitária nacional.

    Defendemos uma economia fundamentalmente comunitária numa escala local.

    Empreendedor deve buscar a Vida boa em detrimento de entregar-se nos braços da hubris capitalista.

  • PugII escreveu: »
    As seitas evangélicas são perigosas.
    Aqui, Leiria, encontrei protestantes, o que é menos mau.
    Evangélicos, não é o mesmo que protestantes
    Percival escreveu: »
    PugII escreveu: »
    Já que vc falou: como foi possível a Europa ter chegado ao Estado a que chegou?
    Há quem responda, no caso europeu, que se deve à UE ser um mero mercado económico. De tanto preocupar-se com o consumidor, numa lógica capitalista, esqueceu formar uma identidade europeia.
    O capitalismo que destruiu os empregos europeus, espoliou os mais pobres para adquirir produtos baratos para vender a consumidores que não se deram conta do real custo para as suas vidas...

    Europeu sempre gostou de um amparo estatal, você é só mais um que adora lamber as bolas da UE.

    Não existe identidade européia onde uns países tem que contribuir para sustentas outros países capengas como Portugal, por exemplo.



    Sabe, o que é pena é você falta à verdade e nunca focar em factos.

    O que você diz só mostra a sua falsidade, pois sendo eu opositor da UE é ridículo aquilo que vc diz,

    Mesmo relativo a Portugal, vc diz asneira.
    Portugal não é sustentado mas recebe fundos para aceitar não produzir. É a pior forma de corrupção europeia e um dos principais motivos para a minha oposição à UE.




    Ainda hoje vcs têm dificuldade em entender a diferença entre as ideias que defendo pessoalmente e exercício meramente académico-advogado do diabo-humorístico.

    O que defendo:
    Sou conservador, num sentido histórico de valores ético-nacionais. Damos valor à nossa história e modo de vida.
    Tenho posição anti-capitalista ( escala global), por aqui residir o mal que tem levado à decadência dos Estado-Nação e por consequência enfraquecimento dos valores éticos-tradicionais e da vida comunitária nacional.

    Defendemos uma economia fundamentalmente comunitária numa escala local.

    Empreendedor deve buscar a Vida boa em detrimento de entregar-se nos braços da hubris capitalista.

    Deve ser sim, você mente para si mesmo que dá pena.
  • Os que resolveram os problemas na ex-Iugoslávia por exemplo foram os EEUU, a UE é indiferente aos problemas da Espanha com o Marrocos por exemplo.
  • LaraAS escreveu: »
    Os que resolveram os problemas na ex-Iugoslávia por exemplo foram os EEUU, a UE é indiferente aos problemas da Espanha com o Marrocos por exemplo.

    UE nem existia na época.
    Mas compreendo o seu ponto.

    Incapacidade da UE ter uma política externa comum, aliás proteger as fronteiras internas é dos motivos que me faz rejeitar a UE (1993).

  • Terraplanismo - Em busca da borda

    Por Marcello Serpa 22/02/2021

    Um farmacêutico de Wisconsin foi preso pelo FBI por destruir 500 doses de vacina. Depois de horas de interrogatório, ele confessou justificando que estaria protegendo as pessoas de ter seu DNA modificado e de se tornar inférteis. Durante o depoimento, ele listou as teorias em que também acredita: o céu não é real, e sim uma película que evita que enxerguemos Deus, o fim está próximo, e a Terra é plana.

    Anderson Cooper, jornalista e âncora da CNN, entrevistou um dissidente do QAnon que se desculpou ao vivo por ter acreditado que o apresentador comia bebês.

    Uma deputada recém-eleita, também seguidora do QAnon, apareceu nas redes sociais questionando a autoria do 11 de Setembro e as chacinas em várias escolas americanas, que teriam sido encenadas para provocar a restrição ao porte de armas. Para ela, os incêndios na Califórnia foram provocados por raios laser vindos do espaço e controlados por banqueiros judeus. Apesar do apoio de Trump e da tolerância do Partido Republicano, foi expulsa da Comissão de... Educação.

    Parece normal para o país onde a cientologia é levada a sério. Onde as seitas de Jim Jones e Marshal Applegate convenceram seus seguidores a se suicidar ou porque o fim estava próximo, ou porque um cometa faria uma parada na Terra para levá-los a outros planetas.

    QAnon é uma comunidade on-line com milhões de seguidores. Nascida da compulsão dos conservadores de duvidar da realidade se ela for dissonante de seus conceitos de moral.

    Crenças cristãs, profecias de fim dos tempos e preconceitos raciais profundos se misturam perigosamente com política. Vivem uma nostalgia de um tempo quando os homens brancos americanos eram a maioria dominante e não precisavam lidar com questões raciais ou com a emancipação feminina. Com um medo profundo de uma inevitável mudança demográfica e social provocada por uma conspiração de democratas pedófilos adoradores de satã, liberais, judeus, chineses, mexicanos, Black Lives Matter e comedores de bebês. Em resumo, comunistas.
    https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/em-busca-da-borda.html
  • Comedores de bebês adram um baby beef. O nome do bife é bebê...
  • editado February 2021
    QAnon é tudo o que eles querem que seja.

    https://www.ignboards.com/threads/if-qanon-is-legit.455411862/
  • O mundo é hoje muito pior comparado ao pós nascimento RV.
    Movimento laico (ateu, opcional) promovendo pensamento crítico...

    O mundo hoje piorou muito, quão sonhadores eram
  • PugII escreveu: »
    O mundo é hoje muito pior comparado ao pós nascimento RV.
    Movimento laico (ateu, opcional) promovendo pensamento crítico...

    O mundo hoje piorou muito, quão sonhadores eram

    Saudades do que nunca viveu.
  • Um (longo) artigo sobre como os conspiracionistas estão se multiplicando na Europa e se organizando em movimentos.
    Em grande parte, são ideias antigas, mas ganharam força com a pandemia.
    Do 'QAnon' à antivacina: um mapeamento do conspiracionismo na Europa

    Eles se consideram defensores de um 'discurso alternativo' às verdades oficiais e seguem o exemplo de americanos para expressar a sua visão conspiracionista dos assuntos candentes nas redes sociais

    Da AFP 18/05/2021

    PARIS - "Não é um vírus", diz Monique Lustig segurando um guarda-chuva cheio de mensagens contra a vacinação em holandês. Na Alemanha, Hellmuth acrescenta: "Covid é uma fábula da máfia financeira internacional". "E se estivéssemos realmente num filme?", pergunta o francês Christophe Charret.

    De Haia a Stuttgart, passando por Paris, todos eles afirmam estar lutando contra o "controle de mentes", contra as redes "pedófilas", contra a "plandemia" inventada por uma elite governante com planos sombrios.

    Eles se consideram defensores de um "discurso alternativo" às verdades oficiais e seguem o exemplo do movimento de teoria da conspiração QAnon americano para expressar a sua visão conspiracionista dos assuntos candentes nas redes sociais.

    Expulsos do Twitter e do Youtube, eles se sentem perseguidos. Optaram por plataformas secundárias para trocar informações - na sua maioria falsas - que, segundo eles, são ocultadas pelos meios de comunicação "mainstream".

    Acompanhamos durante meses estes viveiros conspiratórios na Europa.

    Entre eles há membros do QAnon, fundamentalistas protestantes, antivacinas, populistas de direita, terapeutas alternativos, homens de negócios, artesãos, desempregados, e até médicos.

    Uma equipe heterogênea que está em plena ascensão preocupa os serviços de inteligência, que temem desestabilidades à democracia.

    — A conspiração está florescendo nas redes sociais, vemos que está também organizando células clandestinas. É obviamente uma ameaça — adverte o coordenador nacional dos serviços secretos franceses, Laurent Nunez, que reconhece que as teorias de QAnon chegaram à França.

    Nas redes sociais, os grupos europeus QAnon, ou ligados a eles, surgem e se juntam. Os Décodeurs da França têm mais de 30 mil assinantes no aplicativo de mensagens Telegram. Figuras da conspiração alemã como Attila Hildmann e Xavier Naidoo têm mais de 100 mil seguidores; e o britânico Charlie Ward, que difunde propagandas pró-Trump a cada quinze minutos, atingiu quase 150 mil.

    — Há um coquetel molotov em marcha: o enfraquecimento do tecido socioeconômico, um forte movimento de expressão contestada em plataformas digitais, onde é fácil transmitir discursos conspiratórios, e o calendário eleitoral — afirmou uma funcionária dos serviços secretos da França.

    — Estes são movimentos que surgiram há mais ou menos dez ou quinze anos. São alimentados por uma conspiração antissistema. Há uma porosidade com grupos de extrema-direita — diz um alto funcionário dos serviços secretos franceses que reconhece que o que é novo é a inclusão de "pessoas de origens bastante variadas".

    Esses pensamentos podem destruir famílias que se sentem impotentes perante a adesão dos seus entes queridos. Foi isto que aconteceu a Paulo (o nome foi mudado), que contou sobre o lento tendencionamento da sua mãe "para o outro lado".

    — Ela vivia em reclusão, passava um tempo incrível na internet a procura de respostas à sua raiva contra a injustiça do mundo. Ela consumia YouTube 24 horas por dia, os canais de conspiração eram a sua única janela para o mundo — diz o livreiro de 48 anos.

    — O confinamento foi a cereja no bolo. A Covid foi a confirmação de todas as suas teorias sobre o fim do mundo — acrescenta ele.

    Obsessão com Bill Gates

    Estamos em meados de março, no pacato vilarejo de Uithoorn, no sul de Amsterdã. Lange Frans desdobra a sua fita métrica e, bem apressadamente, nos convida a entrar no seu estúdio de gravação.

    — Aqui não há máscara — solta, sarcasticamente, o rapper que chegou a ser conhecido nos anos 90.

    Entre duas metáforas musicais, conta, orgulhosamente, do "show clandestino", sem medidas de distanciamento social, do qual participou no dia anterior.

    Já há alguns anos, seus podcasts têm sido um sucesso na Holanda. Durante duas horas, o cantor conversa com uma personalidade para dar uma visão "alternativa" sobre assuntos correntes: Covid, acidente do avião MH-370, pedofilia, OVNIs... Tem espaço para tudo.

    — Siga o rastro do dinheiro — fala Lange Frans entre cartazes de Bob Dylan e guitarras.

    — Tomemos o caso de Bill Gates. As pessoas devem descobrir sobre ele, que não tem nenhum diploma médico nem experiência em vacinas. A única razão pela qual recebe tanta atenção é porque tem dinheiro — diz o cantor em inglês impecável.

    Para este jovem de 40 anos, cujo canal do YouTube é frequentemente suspenso, a Covid é uma "novela" e uma "gripe exagerada" de que os meios de comunicação social não param de falar.

    Ceticismo

    Naquele mesmo domingo, véspera das eleições parlamentares holandesas, 3 mil pessoas reuniram-se na cidade de Haia contra as restrições anti-Covid. Um carnaval vigiado de perto pela polícia.

    Semanas antes, a Holanda sofreu várias noites de tumultos violentos após impor toque de recolher obrigatório.

    Participaram das manifestações ativistas do populismo, pessoas que denunciam um governo mundial e defensores dos medicamentos naturais.

    Estavam unidos por um denominador comum: ceticismo em relação ao discurso oficial sobre a pandemia do Covid-19.

    — Não é um vírus, é uma ferramenta para uso do poder. A elite mundial se organizou. Muitos pensam que é muita loucura para ser verdade, mas trabalharam nisso por mais de 20 anos — diz a restauradora Monique Lustig.

    Um pouco mais longe, Jeffrey, um estudante de 21 anos, distribui folhetos denunciando o "Grande Reset", plano do Fórum Econômico Mundial para relançar a economia depois do Covid-19, que esconde, segundo ele, o controle da liberdade e a subjugação da população.

    Quem criou a pandemia? Cada um dá uma resposta diferente, mas geralmente citam dois avatares do capitalismo global: o organizador do Fórum Económico Mundial, Klaus Schwab, e Bill Gates.

    — A elite global está se aproveitando da situação para criar uma nova sociedade. Somos milhares aqui convencidos de que não é uma pandemia — acrescenta Ard Pisa, um antigo banqueiro que se tornou defensor da medicina alternativa para curar o câncer.

    — Oito milhões de crianças desaparecem todos os anos. Isto faz parte do nosso mundo, não devemos fechar os olhos, há muitos casos de pederastia que passam despercebidos — continua, abordando um dos temas favoritos dos apoiadores de QAnon.

    Este número, frequentemente reportado pelas ONGs de proteção da criança, inclui. na realidade, todos os desaparecimentos denunciados, dentre os quais estão os que fogem, que na grande maioria dos casos são encontrados.
    Estado profundo

    A manifestação em Haia não é uma exceção na Europa. Os protestos contra as restrições antiviolência incluem sistematicamente muitos seguidores de teorias conspiratórias.

    Na Dinamarca, membros do grupo "Homens de Preto" afirmam que o coronavírus é um "esquema". Em Berlim, as bandeiras de QAnon são vistas com frequência nestes comícios, que podem reunir até dez mil pessoas. Um punhado deles até tentou forçar entrada no Parlamento em agosto passado.

    De acordo com um inquérito publicado em Setembro de 2020, um terço dos alemães acredita que as "potências secretas" controlam o mundo.

    Os tópicos favoritos de QAnon são ingredientes básicos deste pote de conspiração.

    — QAnon é um ponto de encontro para grupos de extrema-direita, pessoas que acreditam em OVNIs, pessoas que pensam que 5G será usado para controlar pessoas — explica Tom de Smedt, um investigador belga que foi autor de vários estudos sobre a ascensão do movimento na Europa.

    A opinião pública tomou consciência da existência deste movimento, nascido nos Estados Unidos, durante a invasão do Capitólio em janeiro.

    O seu nome vem de mensagens crípticas postadas por um certo "Q", supostamente um alto funcionário norte-americano próximo de Trump. Muito ativo nos Estados Unidos desde 2017, ele defende a ideia de que um "Estado profundo", pilotado por um punhado de elites, governa a ordem mundial.

    O falso escândalo Pizzagate, em que os democratas foram acusados de estarem à frente de uma arena de pederastia, é um dos fundamentos da sua luta.

    Inclusive agora, uma das suas últimas falsas notícias circulando se refere ao mesmo assunto: mais de mil crianças foram libertadas dos porões do navio "Ever given" que bloqueou o Canal do Suez, como parte de um tráfego internacional encorajado por Hillary Clinton.

    'Ponto de inflexão'

    — As mensagens de Q são a bíblia do conspirador — diz Christophe Charret com um sorriso.

    Este homem de negócios afável e atlético que recebe a reportagem na sua casa moderna nos subúrbios de Paris define-se como um "conspirador moderado".

    São quase 20h e o primeiro-ministro Jean Castex acaba de anunciar que o confinamento será prorrogado em parte da França. Mas na sala de estar de Charret, a televisão foi desligada.

    Tudo está acontecendo no seu pequeno escritório, na sótão, onde se prepara para falar sobre as notícias da Aliança Humana, uma associação com 12 mil assinantes na rede Telegram que decifra assuntos correntes por meio de um prisma conspiratório.

    Ao som de música digna dos filmes de Hollywood, as imagens seguem uma após a outra de modo bem acelerado: Kennedy, 11 de setembro, 5G, vacina, Donald Trump, o epidemiologista francês Didier Raoult, e, claro, Bill Gates.

    — O mundo é gerido por um conglomerado financeiro-tecnológico que controla a soberania do povo. A tecnologia torna possível fazer coisas preocupantes, o controle da consciência, particularmente, não é um mito —diz Charret, atrás dele está um "Q" feito de guirlanda luminosa.

    Nessa noite, em um vídeo com cerca de 30 mil visualizações, ele interveio para falar sobre as vacinas, Joe Biden, e os esforços humanitários da associação para angariar fundos para os estudantes necessitados.

    — Estamos em um ponto de inflexão no mundo, dois lados estão guerreando e aqueles que seguram as rédeas não são nossos amigos. E farão tudo o que estiver ao seu alcance para não as largarem, mas há forças trabalhando para um futuro Dia D — conclui, insistindo no empenho pacífico e na rejeição da violência.

    Replicagem no Telegram

    Na Europa, os chamados QAnon são bastante discretos e escassos. A administração do movimento permanece profundamente americana. Mas os seus herdeiros no Velho Continente assumiram a base ideológica.

    — Todos os QAnon europeus apoiam a narrativa oficial, sobretudo apoio a Trump e às ideias de extrema-direita, porém cada grupo adapta estas mensagens aos interesses locais — aponta o diretor de estratégia da empresa israelita de cibersegurança ActiveFence, Nitzan Tamari.

    — Entre os tópicos sobre os quais existe consenso entre os diferentes grupos, encontramos a Covid-19 e as conspirações de vacinas que constituem a maior parte das mensagens trocadas, mas também se trata das conspirações sobre o estado profundo e a pedofilia — explica o israelita.

    — QAnon é como um caranguejo ferido que se retira para dentro da sua carapaça. O Twitter fez um tremendo trabalho apagando contas — recorda o investigador Tom de Smedt.

    Mas esta varredura digital não atingiu as raízes do sucesso destas teorias.

    — Há um sentimento de raiva que não é de esquerda ou de direita, mas anti-elite. E esse sentimento não desapareceu — acrescenta Tom de Smedt.

    Contaminação do debate público

    O número de rumores que se difundem entre os grupos de Telegram espalha-se frequentemente a partir deste "núcleo duro" e acabam chegando à opinião pública.

    Em janeiro, na Alemanha, em um formidável estudo de caso de propagação de fake news, milhares de mensagens denunciaram subitamente em várias redes a intenção de criar "salas de masturbação" para menores em num jardim de infância de Teltow, ao sul de Berlim.

    A informação, divulgada por centenas de funcionários eleitos do partido de extrema-direita AfD, levou um deputado da maioria no poder a criticar a iniciativa. Na realidade, tudo isto resultou de um artigo de jornal local cujas citações mal interpretadas foram amplificadas exponencialmente nas redes sociais.

    Na França, o documentário Hold-Up — uma confusão de quase três horas de relatos conspiratórios por médicos, deputados, investigadores e sociólogos — tem sido visto por vários milhões de pessoas.

    Denominada por muitos funcionários eleitos da maioria governamental como "propaganda de complô", tornou-se uma referência para todos os céticos, independentemente da sua orientação política.

    Em 2019, um estudo da Fundação Jean Jaurès mostrou que o eleitorado de Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, é de longe o mais permeável às teorias da conspiração.

    A bênção dos populistas

    Na Holanda, após uma campanha centrada na hostilidade, a formação populista Fórum para a Democracia quadruplicou o seu número de assentos nas eleições legislativas.

    Em Urk, uma pequena cidade no ultraprotestante "Cinturão Bíblico", onde o sarampo ainda assolou em 2019, o Fórum subiu para o terceiro lugar.

    Tal como o Fórum, alguns partidos populistas europeus não abraçam oficialmente a retórica do complô, mas mantêm um discurso ambíguo e apelativo o suficiente para este eleitorado frequentemente enojado com a política.

    — As pessoas aqui têm dúvidas sobre a vacina. Há razões médicas - os seus efeitos são desconhecidos - mas também religiosas. Acreditam em Deus ou na vacina? Podemos interferir com os planos de Deus? — pergunta o Reverendo Alwin Uitslag, que dá as boas-vindas à reportagem na sua casa localizada junto a uma das muitas igrejas do vilarejo.

    Longe do mar, a 500 km de Urk, Christina Baum está fazendo campanha à luz do sol no estado de Baden-Württemberg, o bastião alemão de protesto contra as medidas sanitárias.

    Alguns dias antes das eleições nesta região, a porta-voz regional de saúde do partido de extrema-direita alemã AfD fala aos seus apoiadores sobre o coronavírus sem máscaras ou tabus.

    Um deles, Hellmuth, ataca, dizendo que se trata de "fábula da máfia financeira criminosa internacional".

    Baum recusa-se a contradizer este discurso: na AfD, todas as opiniões são bem-vindas.

    Calendário eleitoral

    — Com o Covid, teorias de que nunca tinha ouvido falar vieram à luz. E eu acho isso impressionante. O que quer fazer com estas pessoas? Quer dizer-lhes que as isolamos completamente da sociedade? Isso não é possível. Temos de procurar o diálogo com todos — diz Baum.

    — Aqueles que votam em partidos de extrema-direita têm uma maior tendência a acreditar em teorias de conspiração ligadas à Covid. Este é o caso de um em cada cinco eleitores da AfD — afirma um relatório de fevereiro de 2021 encomendado por várias ONGs, incluindo a Fundação Amadeu Antonio.

    Discursos que encontram eco na França, especialmente entre os "Patriots", um pequeno partido soberanista cujo líder, Florian Philippot, denuncia todos os sábados em manifestações pelo país o "Coronaloucura".

    Embora esteja limitado a algumas formações políticas populistas e manifestações esporádicas, este coquetel de múltiplos discursos conspiratórios preocupa os serviços secretos europeus.

    Na Alemanha, o movimento "Querdenken", que se opõe às medidas anti-Covid, está sob crescente vigilância em várias regiões devido às suas ligações com movimentos próximos da extrema-direita, cujo discurso desafia a constituição.

    — Estamos trabalhando em um grupo de pessoas claramente definido que, constatamos, terem contato com extremistas. As teorias do complô podem atuar como um catalisador para a radicalização e uma porta de entrada para o extremismo — explica um oficial de inteligência em Baden-Württemberg.

    Poderiam as teorias da conspiração, que se infiltraram no debate público e nas redes sociais, abrir a porta à desestabilização das nossas democracias?

    — Estamos preocupados com a mudança para o ato violento destes indivíduos — diz um alto funcionário dos serviços secretos franceses que culpa "a interferência de informação do Estado russo" no caso das redes "Russia Today e Sputnik".

    Telegram e VK, duas das principais redes sociais onde os plotters se retiraram, partilham os mesmos criadores: os irmãos russos Durov.

    — Na Alemanha, recentemente, a atmosfera nas manifestações tornou-se muito mais agressiva — diz o responsável pela segurança pública de Stuttgart.

    — Para mim, o mais perigoso não são alguns radicais, mas este tipo de onda de desconfiança crescente em relação às instituições — teme o investigador francês Sylvain Delouvée.

    — O desafio é saber se a eleição (presidencial) canalizará ou não esta vontade de expressar protesto — conclui a fonte dos serviços secretos franceses.

    A França e a Alemanha irão oferecer uma primeira resposta nos próximos meses.
    https://oglobo.globo.com/mundo/do-qanon-antivacina-um-mapeamento-do-conspiracionismo-na-europa-25021999



  • editado May 2021
    Novamente a grande mídia se enganando com Q Anon que é um bait dos chans. Nem o pessoal do Vestibule do IGN cai nisso e eles são extremamente progressistas.

    https://www.ignboards.com/threads/qanon-is-the-most-insane-thing-ive-ever-heard.455604925/
  • Você pesquisa Qanon e chan e voilá:

    https://www.oxygen.com/true-crime-buzz/qanon-mass-delusions-roots-in-the-4chan-and-8chan-websites



    Não precisa se dizer mais nada .
  • PugII escreveu: »
    A tragédia brasileira:
    evangelismo + movimentos anti-ciência + paranóia generalizada + relativismo, toda opinião é a verdade + ódio aos intelectuais/ especialistas.
    Só falta implodirem museus e bibliotecas e entrarem atirando em redações de jornais e revistas para chegarem ao nível de boa parte dos muçulmanos.
  • Cala a boca, terrorista.

  • "Se Hitler não tivesse sido um incompetente, hoje os sionistas não ameaçariam o mundo."

    Pug, O grande lambe botas de maometanos e quer cagar regras sobre "extremismo" evangélico.
  • Os velhos ratos sempre aparecem...
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