Comando do Exército defende duque de Caxias - Desfile o mostrava pisando sobre corpos ensanguentados
Comando do Exército defende duque de Caxias, alvo de críticas da Mangueira
Desfile campeão do Carnaval do Rio mostrava patrono do Exército pisando sobre corpos ensanguentados
Igor Gielow
SÃO PAULO
Nota do Comando do Exército divulgada nesta segunda (11) faz uma defesa do patrono da instituição, o duque de Caxias —atacado, junto a outras figuras históricas, no desfile campeão do Carnaval deste ano no Rio, da Mangueira.
A escola de samba trouxe um destaque fantasiado de Caxias sobre alegoria em que pisava em corpos ensanguentados, representando vítimas da repressão militar a diversas revoltas durante o período imperial brasileiro. O enredo se propôs a contar episódios da história brasileira de uma forma crítica, emulando leituras revisionistas tradicionais da esquerda brasileira. Na quarta (13) será celebrado o dia do patrono na Força.
“Não é de hoje que, por razões diversas, tentativas revisionistas acercam-se do vulto histórico do duque de Caixas. Todas caem em descrédito”, diz um prólogo da nota. O texto então afirma que o militar foi chamado a pacificar províncias insurgentes, mas que “notabilizou-se, entre outras virtudes, pelo tratamento digno e respeitoso que dispensava aos vencidos”. “Ao lado de brancos, negros, índios e mestiços, Caxias foi o conciliador que estabeleceu a paz em um ambiente conturbado de revoltas, entre as quais a Farroupilha”, afirma a nota.
A Revolução Farroupilha foi a mais famosa revolta republicana no período regencial, quando d. Pedro 2º ainda não havia assumido de fato o trono. A disputa com o poder imperial havia começado em 1835, e em 1842 Caxias foi enviado para debelar o conflito —o que aconteceu três anos depois. Antes, ele havia suprimido em 1840 um rebelião no Maranhão conhecida como a Balaiada, na qual entrou como coronel e saiu como brigadeiro e com o direito de escolher a cidade à qual o Império associou seu título de nobreza: Caxias, capturada por ele no conflito. Em 1842, ele ainda acabou com revoltas promovidas por políticos adversários do gabinete do governo, do Partido Liberal, em São Paulo e Rio.
Esse é o papel que a Mangueira questionou. Entre oficiais que leram a nota, houve também uma interpretação secundária: de que ela servia também para admoestar indiretamente Jair Bolsonaro e seus filhos políticos, que andam às turras com a ala militar do governo. No caso do presidente, a pregação de “pluralidade cultural” defendida pelo Exército se choca, ainda que criticando uma escola de samba, com a polêmica na qual o mandatário postou um vídeo obsceno e o associou ao Carnaval —tendo de voltar atrás depois. Já os filhos colecionam polêmicas, a mais recente sendo a derrubada de um secretário do Ministério da Educação que era militar por divergência com o grupo bolsonarista mais ideológico, influenciado pelo escritor Olavo de Carvalho.
A historiografia brasileira, de forma geral, concorda que Caxias teve papel decisivo para evitar o esfacelamento do nascente império abandonado pelo primeiro líder, dom Pedro 1º. Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880) teve longa carreira política e militar. Comandou o Exército na derrota da Argentina na Guerra do Prata (1851) e no maior conflito sul-americano, a Guerra do Paraguai (1864-70) —quando o Brasil aliou-se a argentinos e uruguaios, com apoio britânico, para derrotar a ditadura vizinha.
Ele foi elevado a duque por dom Pedro 2º em 1869, num episódio de reconciliação, quando deixou o posto no Paraguai sem permissão —a guerra estava ganha, mas o ditador Solano López ainda estava à solta. Apesar de hoje ter seus feitos considerados inigualáveis, no fim da vida ficou à sombra de outro nome de destaque no Paraguai, Manuel Luís Osório. Sua fama como comandante militar só começou a ganhar o status atual nos anos 1920, e em 13 de março de 1962 tornou-se patrono do Exército.
A nota do Exército resgata o sociólogo e historiador Gilberto Freyre, insuspeito de servir como modelo para direitismo bolsonarista, para lembrar que o usualmente pejorativo termo “caxias”. “O caxiismo deveria ser aprendido tanto nas escolas civis quanto nas militares. É o Brasil interior que precisa dele”, cita a nota.
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/03/comando-do-exercito-defende-duque-de-caxias-alvo-de-criticas-da-mangueira.shtml
Desfile campeão do Carnaval do Rio mostrava patrono do Exército pisando sobre corpos ensanguentados
Igor Gielow
SÃO PAULO
Nota do Comando do Exército divulgada nesta segunda (11) faz uma defesa do patrono da instituição, o duque de Caxias —atacado, junto a outras figuras históricas, no desfile campeão do Carnaval deste ano no Rio, da Mangueira.
A escola de samba trouxe um destaque fantasiado de Caxias sobre alegoria em que pisava em corpos ensanguentados, representando vítimas da repressão militar a diversas revoltas durante o período imperial brasileiro. O enredo se propôs a contar episódios da história brasileira de uma forma crítica, emulando leituras revisionistas tradicionais da esquerda brasileira. Na quarta (13) será celebrado o dia do patrono na Força.
“Não é de hoje que, por razões diversas, tentativas revisionistas acercam-se do vulto histórico do duque de Caixas. Todas caem em descrédito”, diz um prólogo da nota. O texto então afirma que o militar foi chamado a pacificar províncias insurgentes, mas que “notabilizou-se, entre outras virtudes, pelo tratamento digno e respeitoso que dispensava aos vencidos”. “Ao lado de brancos, negros, índios e mestiços, Caxias foi o conciliador que estabeleceu a paz em um ambiente conturbado de revoltas, entre as quais a Farroupilha”, afirma a nota.
A Revolução Farroupilha foi a mais famosa revolta republicana no período regencial, quando d. Pedro 2º ainda não havia assumido de fato o trono. A disputa com o poder imperial havia começado em 1835, e em 1842 Caxias foi enviado para debelar o conflito —o que aconteceu três anos depois. Antes, ele havia suprimido em 1840 um rebelião no Maranhão conhecida como a Balaiada, na qual entrou como coronel e saiu como brigadeiro e com o direito de escolher a cidade à qual o Império associou seu título de nobreza: Caxias, capturada por ele no conflito. Em 1842, ele ainda acabou com revoltas promovidas por políticos adversários do gabinete do governo, do Partido Liberal, em São Paulo e Rio.
Esse é o papel que a Mangueira questionou. Entre oficiais que leram a nota, houve também uma interpretação secundária: de que ela servia também para admoestar indiretamente Jair Bolsonaro e seus filhos políticos, que andam às turras com a ala militar do governo. No caso do presidente, a pregação de “pluralidade cultural” defendida pelo Exército se choca, ainda que criticando uma escola de samba, com a polêmica na qual o mandatário postou um vídeo obsceno e o associou ao Carnaval —tendo de voltar atrás depois. Já os filhos colecionam polêmicas, a mais recente sendo a derrubada de um secretário do Ministério da Educação que era militar por divergência com o grupo bolsonarista mais ideológico, influenciado pelo escritor Olavo de Carvalho.
A historiografia brasileira, de forma geral, concorda que Caxias teve papel decisivo para evitar o esfacelamento do nascente império abandonado pelo primeiro líder, dom Pedro 1º. Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880) teve longa carreira política e militar. Comandou o Exército na derrota da Argentina na Guerra do Prata (1851) e no maior conflito sul-americano, a Guerra do Paraguai (1864-70) —quando o Brasil aliou-se a argentinos e uruguaios, com apoio britânico, para derrotar a ditadura vizinha.
Ele foi elevado a duque por dom Pedro 2º em 1869, num episódio de reconciliação, quando deixou o posto no Paraguai sem permissão —a guerra estava ganha, mas o ditador Solano López ainda estava à solta. Apesar de hoje ter seus feitos considerados inigualáveis, no fim da vida ficou à sombra de outro nome de destaque no Paraguai, Manuel Luís Osório. Sua fama como comandante militar só começou a ganhar o status atual nos anos 1920, e em 13 de março de 1962 tornou-se patrono do Exército.
A nota do Exército resgata o sociólogo e historiador Gilberto Freyre, insuspeito de servir como modelo para direitismo bolsonarista, para lembrar que o usualmente pejorativo termo “caxias”. “O caxiismo deveria ser aprendido tanto nas escolas civis quanto nas militares. É o Brasil interior que precisa dele”, cita a nota.
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/03/comando-do-exercito-defende-duque-de-caxias-alvo-de-criticas-da-mangueira.shtml
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